Maria
Celina Melchior
A
autora traz a abordagem de um dos maiores problemas enfrentada pelas escolas de
1º grau, o fracasso escolar. Este problema é representado pela reprovação e
evasão escolar. E ainda é considerado um problema social grave e desafiador em
amplitude internacional.
Dados
alarmantes são apresentados pelo PNAD-IBGE (In: Educação para todos: o desafio
brasileiro, 1994) referentes à escolarização da população de 7 a 14 anos, onde
apontam que em 1988, cerca de 81,2% das crianças nesta faixa etária estão na
escola. Aproximadamente 7,5% encontram- se fora da escola depois de terem
passado por ela. Cerca de 5,3% não têm acesso à escola. Apenas 24% dos alunos
que entram na escola concluem a 8º série. Estes levam em média 11,4 anos para
concluir as oito séries. Os alunos que evadem, ficam, em média, 6,4 anos na
escola.
Assim,
a autora conclui que o grande problema está ligado à repetência e não à evasão.
O tempo que as crianças permanecem na escola, seria suficiente para a
conclusão.
1
– Evasão escolar
A
autora define que o aluno evadido é aquele que abandona a escola durante o ano
letivo. E alguns professores encontram vantagens nisso, visto que, o índice de
aprovação de seus alunos subirá. Pois segundo eles, o aluno que se evadiu “não
tem condições de ser aprovado”. Já Arroyo (1986) diz que evasão sugere que o
aluno se evade, ele deixa um espaço e uma oportunidade que lhe foi oferecida
por motivos pessoais ou familiares. Portanto, ele é responsável por sua evasão.
Entre
os fatores que levam os alunos a se evadirem, destacam-se:
·
Falta
de pré-requisito: muitos saem da escola porque
não conseguem acompanhar os demais colegas;
·
O
“rótulo” que já “receberam” em anos anteriores:
são tratados, às vezes, de forma muito sutil, como “fracassos” e ficam
marginalizados não conseguindo se integrar no grupo;
·
A
distância entre o que enfrentam na sociedade e que a escola propõe:
a falta de significado ou importância, para eles, naquilo que está sendo
proposto ou da própria escola como um todo, gera abandono dos estudos. Muitos
preferem optar por abandonar a escola por completo, ou tornar-se rebeldes;
·
Problema
sociais: o aluno tem que trabalhar para ajudar
no sustento familiar, ou a família muda, constantemente, de bairro ou de cidade
em busca de novas oportunidade de trabalho;
2
– Reprovação escolar
Após
vários estudos realizados para a detecção das causas da reprovação escolar,
constatou-se, até a década de 60, que a responsabilidade cai sobre o próprio
aluno, ou sua situação familiar, social ou econômica. Alguns anos depois
notaram, além dos fatores individuais, fatores externos ao aprendiz. O
professor, através de seu desempenho, pode facilitar a aprendizagem e contribuir
para o fracasso do aluno; as influências da escola e organização e também a
influência exercida pelo nível sócio econômico das famílias às quais pertencem
as crianças.
Holt
considera a atuação do professor como sendo a maior causa da reprovação
escolar. O autor afirma que “o aluno fracassa porque é atemorizado, molestado e
confundido” (Holt, 1967, p. 17). Atemorizado porque não tem a liberdade de
fazer o que quer, não pode errar. Seu interessado amor por aprender é destruído
ao receber a recompensa de boas notas caso responda de acordo com a vontade do
professor.
Já
Glasser (1972, p. 55) culpa a escola pelo fracasso. É dever da sociedade
oferecer um sistema escolar que assegure o êxito de sua clientela. Infelizmente
a escola não está ensinando o aluno a conseguir e manter uma identidade de
sucesso. Além desses fatores, também incluem-se: as expectativas que os
professores e, até mesmo, seus pais têm em relação às crianças e jovens; baixa
autoestima dos mesmos; e a falta de confiança em sua capacidade.
Para
Lembo (1975, p. 7) o principal culpado do insucesso escolar é o processo
escolar. Segundo ele, “o aluno não entra na escola fracassado, quando fracassa
são os métodos empregados pelos professores e administradores, individual e
coletivamente, que estão falhando”.
Marocco
(1983) considera a relação professor-aluno o ponto vital do processo
educacional característico da escola. Segundo Melchior essa relação poderá
acontecer se houve a intenção e a ação do professor para que aconteça.
Ao
invés de procurar culpados pelo insucesso escolar é necessário encontrar
alternativas que possibilitem a todos os alunos a aquisição do conhecimento e
do desenvolvimento das habilidades e atitudes desejadas. A reprovação na escola
deve ser entendida e assumida como exceção e não como regra. A regra é
aprender, progredir. Quando
falamos em alunos evadidos, repetentes ou defasados, pensam logo em motivos
como: baixo Q.I., diferenças individuais de capacidade, desinteresse ou
desmotivação; em síntese o aluno é, ainda, o responsável pelo seu fracasso.
3
– Um novo enfoque frente ao problema
Nos
últimos anos, alguns pesquisadores mudaram o rumo das pesquisas, e começaram a
investigar não mais os problemas que geram o fracasso mas o que estava sendo
feito para produzir. Segundo Mello (1994), alguns estudos teóricos e pesquisam
foram feitos, principalmente, na Inglaterra, Estados Unidos e França, partindo
das questões: “a escola faz diferença”; “que escola está fazendo diferença, ou
que escola está conseguindo ensinar os seus alunos de nível socioeconômico
desfavorecido”, levantadas na década de 70.
Em
relação à questão “a escola faz diferença” os dados confirmaram que, em geral,
a culpa recai nas variáveis referentes ao aluno. Mas em relação ao segundo
questionamento “que escola está fazendo diferença”, que não refutava esses
resultados mas definia outras variáveis, foi possível identificar as
características ou fatores que estão contribuindo para um melhor resultado na
aprendizagem.
3.1
– Fatores que favorecem o sucesso
Segundo
os estudos com diferentes delineamentos realizados por Purkey e Smith (apud
Mello, 1994), as escolas eficazes têm as seguintes características:
·
Presença
de liderança: tanto em nível de sistema, como em
nível de sala de aula, o papel do líder é extremamente importante. Não um líder
autoritário e dominador, como no ensino tradicional, mas um líder que procure
adequar o seu estilo de liderança ao grupo, às necessidades do momento e aos
objetivos que propõe, sem deixar de ser carismático, para que a educação
aconteça num clima propício ao desenvolvimento de todos os partícipes do
processo;
·
Expectativas
positivas em relação ao rendimento do aluno: a expectativa
influi na subjetividade do professor, não só no momento em que necessita fazer
avaliações em relação aos desempenhos do aluno, mas, principalmente, no nível
dos desafios que ele faz ou deixa de fazer ao aluno porque não acredita na sua
capacidade;
·
Tipo
de organização, clima da escola: são fatores
importantes para a motivação do aluno;
·
Existência
ou natureza dos objetivos de aprendizagem: a fixação
de metas e objetivos claros e bem definidos dá perspectiva às finalidades
daquilo que está propondo;
·
Distribuição
do tempo: a distribuição do tempo é um item de
importância para o alcance eficaz das metas. Em educação, além de prever o
tempo visando o alcance das metas, é necessário considerar a idade dos alunos e
distribuí-lo considerando a capacidade de concentração e a variação das
atividades, nos diferentes níveis etários, para uma maior motivação e
consequente desenvolvimento.
·
Estratégias
de capacitação de professores: é importante a
qualificação, aperfeiçoamento e atualização dos professores, pois as mudanças
sociais e o desenvolvimento tecnológico são cada vez maiores;
·
Relacionamento
e suporte técnico de instâncias da administração do ensino:
a solução de um grande número de problemas educacionais depende, em grande
parte, de uma vontade política. Não adianta um gruo comprometido com o
desenvolvimento educacional realizar suas funções de forma adequada à
necessidades, se houver problemas que não estão ao alcance de suas
possibilidades, que não forem atendidos por instâncias de outra ordem. Cada uma
das esferas tem funções a cumprir, na busca de melhores resultados;
·
Apoio
e participação dos pais: não adianta apenas identificar
as dificuldades é necessário que se unam governo, escola e família para
encontrar alternativas de solução para minimizar os fatores que estão
dificultando a aprendizagem, sejam estes originados no contexto social ou na
escola;
·
Tipo
de acompanhamento e avaliação de aluno: a avaliação
é, muitas vezes, usada como “arma” contra o aluno. Quando isso acontece, o
aluno passa a ter medo da avaliação, medo de fazer perguntas e de mostrar que
não sabe. A distância entre professor e aluno vai ficando cada vez maior.
3.2
– O papel do profissional da educação
Os
docentes necessitam de uma nova postura pedagógica: uma postura de busca de
aperfeiçoamento e atualização dos conhecimentos sobre os conteúdos; de
diversificadas metodologias e de diferentes recursos através de novas
tecnologias; do aperfeiçoamento de metodologias avaliativas, com função de
melhorar o processo.
É
fundamental o professor ter clareza de que a avaliação só tem eficiência social
quando está vinculada a um projeto pedagógico, que, por sua vez, está vinculado
a um projeto social. É necessário que cada professor em particular ou nos
grupos faça uma auto-avaliação e uma avaliação coletiva sobre o que está
acontecendo na escola.
A
culpa pelo fracasso escolar ainda está relacionado sobre o aluno, sua família
ou sociedade, conclui-se que identificar de quem é a culpa não está auxiliando
a minimizar o problema, é preciso um “dar as mãos”: escola, famílias e
comunidade para encontrar alternativas que facilitem a aquisição do conhecimento
por todos os alunos que estão na escola.
Nas
últimas décadas, esforços vêm sendo feitos no sentido de diminuir os índices de
aprovação e evasão escolar. A forma como isso vai ser feito depende de cada
professor. Espera-se que ele esteja bem consciente da importância que lhe é
atribuída no momento em que grandes mudanças devem acontecer, quando mais
importante do que a informação passa a ser o desenvolvimento da capacidade de pensar, de aprender a aprender e resolver problemas.
4
– A solução globalizada
Nos
últimos tempos, surgem movimentos globalizados para a discursão dos problemas
relacionados ao fracasso escolar, onde é uma questão universal. A educação
passou a ser discutida com prioridade e valorizada, no mundo inteiro, como
fator de desenvolvimento social e econômico do país, após a “Conferência
Mundial sobre Educação para Todos” realizada em março de 1990, em Jomtien,
Tailândia.
O
resultado dessa conferência foi o compromisso assumido pelos 155 países
presentes, inclusive o Brasil, de promover a educação básica para todos e
garantir o ensino fundamental para as crianças. E os produtos foram a
“Declaração Mundial sobre Educação para Todos” e o “Plano de Ação para
Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem”. Para a implantação do
Plano foram priorizados os nove maiores e mais populosos países do mundo, entre
eles o Brasil.
Em
julho de 1990, foi promulgada a Lei 8069, ou o Estatuto da Criança e do
Adolescente que estabelece, no Capítulo IV, Artigo 53, que “a criança e o
adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua
pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”.
A responsabilidade para garantir esse direito deve ser um compromisso de toda a
sociedade. Desde 1990, vem sendo desenvolvido o projeto Sistema Nacional de
Avaliação Básica –SAEB, onde surgiu como um projeto integrador e cooperativo
entre a União da Federação, visando a realização de um diagnóstico nacional
capaz de orientar as políticas educacionais.
A
aprovação da Lei de diretrizes e Bases (Lei nº 9394/96), também foi uma ação
muito significativa, que prevê mudanças
radicais em todos os sistemas de Ensino, desde sua organização, nos diferentes
níveis, formação e obtenção de recursos financeiros.
Assim,
a autora Melchior deixa claro que para o sucesso escolar não está relacionado
em um eixo unitário. Não podemos atribuir a culpa para à apenas “um”
responsável. E ao invés de averiguarmos os culpados pelo fracasso, “demos as
mãos”: escola, pais, sociedade, para proporcionar ao aluno aprendizagem e
sucesso.
REFERÊNCIA
MELCHIOR, Maria Celina. Fracasso
escolar. In: MELCHIOR, Maria Celina. O
Sucesso escolar através da avaliação e da recuperação. 2. Ed. Porto Alegre:
Premier, 2004, p. 17-38.
Essa foi uma síntese feita do texto já mencionado acima para discussão sobre o mesmo. O professor nos reuniu em duplas para que cada dupla pudesse explorar determinado texto, e o nosso estudo foi feito desse texto, e em sala todos discutimos juntos sobre todos os textos propostos para as duplas.
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