terça-feira, 26 de agosto de 2014

SÍNTESE DO TEXTO “FRACASSO ESCOLAR”



 
Maria Celina Melchior

            A autora traz a abordagem de um dos maiores problemas enfrentada pelas escolas de 1º grau, o fracasso escolar. Este problema é representado pela reprovação e evasão escolar. E ainda é considerado um problema social grave e desafiador em amplitude internacional.
            Dados alarmantes são apresentados pelo PNAD-IBGE (In: Educação para todos: o desafio brasileiro, 1994) referentes à escolarização da população de 7 a 14 anos, onde apontam que em 1988, cerca de 81,2% das crianças nesta faixa etária estão na escola. Aproximadamente 7,5% encontram- se fora da escola depois de terem passado por ela. Cerca de 5,3% não têm acesso à escola. Apenas 24% dos alunos que entram na escola concluem a 8º série. Estes levam em média 11,4 anos para concluir as oito séries. Os alunos que evadem, ficam, em média, 6,4 anos na escola.
            Assim, a autora conclui que o grande problema está ligado à repetência e não à evasão. O tempo que as crianças permanecem na escola, seria suficiente para a conclusão.

1 – Evasão escolar
            A autora define que o aluno evadido é aquele que abandona a escola durante o ano letivo. E alguns professores encontram vantagens nisso, visto que, o índice de aprovação de seus alunos subirá. Pois segundo eles, o aluno que se evadiu “não tem condições de ser aprovado”. Já Arroyo (1986) diz que evasão sugere que o aluno se evade, ele deixa um espaço e uma oportunidade que lhe foi oferecida por motivos pessoais ou familiares. Portanto, ele é responsável por sua evasão.
            Entre os fatores que levam os alunos a se evadirem, destacam-se:
·         Falta de pré-requisito: muitos saem da escola porque não conseguem acompanhar os demais colegas;
·         O “rótulo” que já “receberam” em anos anteriores: são tratados, às vezes, de forma muito sutil, como “fracassos” e ficam marginalizados não conseguindo se integrar no grupo;
·         A distância entre o que enfrentam na sociedade e que a escola propõe: a falta de significado ou importância, para eles, naquilo que está sendo proposto ou da própria escola como um todo, gera abandono dos estudos. Muitos preferem optar por abandonar a escola por completo, ou tornar-se rebeldes;
·         Problema sociais: o aluno tem que trabalhar para ajudar no sustento familiar, ou a família muda, constantemente, de bairro ou de cidade em busca de novas oportunidade de trabalho;

2 – Reprovação escolar
            Após vários estudos realizados para a detecção das causas da reprovação escolar, constatou-se, até a década de 60, que a responsabilidade cai sobre o próprio aluno, ou sua situação familiar, social ou econômica. Alguns anos depois notaram, além dos fatores individuais, fatores externos ao aprendiz. O professor, através de seu desempenho, pode facilitar a aprendizagem e contribuir para o fracasso do aluno; as influências da escola e organização e também a influência exercida pelo nível sócio econômico das famílias às quais pertencem as crianças.
            Holt considera a atuação do professor como sendo a maior causa da reprovação escolar. O autor afirma que “o aluno fracassa porque é atemorizado, molestado e confundido” (Holt, 1967, p. 17). Atemorizado porque não tem a liberdade de fazer o que quer, não pode errar. Seu interessado amor por aprender é destruído ao receber a recompensa de boas notas caso responda de acordo com a vontade do professor.
            Já Glasser (1972, p. 55) culpa a escola pelo fracasso. É dever da sociedade oferecer um sistema escolar que assegure o êxito de sua clientela. Infelizmente a escola não está ensinando o aluno a conseguir e manter uma identidade de sucesso. Além desses fatores, também incluem-se: as expectativas que os professores e, até mesmo, seus pais têm em relação às crianças e jovens; baixa autoestima dos mesmos; e a falta de confiança em sua capacidade.
            Para Lembo (1975, p. 7) o principal culpado do insucesso escolar é o processo escolar. Segundo ele, “o aluno não entra na escola fracassado, quando fracassa são os métodos empregados pelos professores e administradores, individual e coletivamente, que estão falhando”.
            Marocco (1983) considera a relação professor-aluno o ponto vital do processo educacional característico da escola. Segundo Melchior essa relação poderá acontecer se houve a intenção e a ação do professor para que aconteça.
            Ao invés de procurar culpados pelo insucesso escolar é necessário encontrar alternativas que possibilitem a todos os alunos a aquisição do conhecimento e do desenvolvimento das habilidades e atitudes desejadas. A reprovação na escola deve ser entendida e assumida como exceção e não como regra. A regra é aprender, progredir.             Quando falamos em alunos evadidos, repetentes ou defasados, pensam logo em motivos como: baixo Q.I., diferenças individuais de capacidade, desinteresse ou desmotivação; em síntese o aluno é, ainda, o responsável pelo seu fracasso.

3 – Um novo enfoque frente ao problema
            Nos últimos anos, alguns pesquisadores mudaram o rumo das pesquisas, e começaram a investigar não mais os problemas que geram o fracasso mas o que estava sendo feito para produzir. Segundo Mello (1994), alguns estudos teóricos e pesquisam foram feitos, principalmente, na Inglaterra, Estados Unidos e França, partindo das questões: “a escola faz diferença”; “que escola está fazendo diferença, ou que escola está conseguindo ensinar os seus alunos de nível socioeconômico desfavorecido”, levantadas na década de 70.
            Em relação à questão “a escola faz diferença” os dados confirmaram que, em geral, a culpa recai nas variáveis referentes ao aluno. Mas em relação ao segundo questionamento “que escola está fazendo diferença”, que não refutava esses resultados mas definia outras variáveis, foi possível identificar as características ou fatores que estão contribuindo para um melhor resultado na aprendizagem.

3.1 – Fatores que favorecem o sucesso
            Segundo os estudos com diferentes delineamentos realizados por Purkey e Smith (apud Mello, 1994), as escolas eficazes têm as seguintes características:
·         Presença de liderança: tanto em nível de sistema, como em nível de sala de aula, o papel do líder é extremamente importante. Não um líder autoritário e dominador, como no ensino tradicional, mas um líder que procure adequar o seu estilo de liderança ao grupo, às necessidades do momento e aos objetivos que propõe, sem deixar de ser carismático, para que a educação aconteça num clima propício ao desenvolvimento de todos os partícipes do processo;
·         Expectativas positivas em relação ao rendimento do aluno: a expectativa influi na subjetividade do professor, não só no momento em que necessita fazer avaliações em relação aos desempenhos do aluno, mas, principalmente, no nível dos desafios que ele faz ou deixa de fazer ao aluno porque não acredita na sua capacidade;
·         Tipo de organização, clima da escola: são fatores importantes para a motivação do aluno;
·         Existência ou natureza dos objetivos de aprendizagem: a fixação de metas e objetivos claros e bem definidos dá perspectiva às finalidades daquilo que está propondo;
·         Distribuição do tempo: a distribuição do tempo é um item de importância para o alcance eficaz das metas. Em educação, além de prever o tempo visando o alcance das metas, é necessário considerar a idade dos alunos e distribuí-lo considerando a capacidade de concentração e a variação das atividades, nos diferentes níveis etários, para uma maior motivação e consequente desenvolvimento.
·         Estratégias de capacitação de professores: é importante a qualificação, aperfeiçoamento e atualização dos professores, pois as mudanças sociais e o desenvolvimento tecnológico são cada vez maiores;
·         Relacionamento e suporte técnico de instâncias da administração do ensino: a solução de um grande número de problemas educacionais depende, em grande parte, de uma vontade política. Não adianta um gruo comprometido com o desenvolvimento educacional realizar suas funções de forma adequada à necessidades, se houver problemas que não estão ao alcance de suas possibilidades, que não forem atendidos por instâncias de outra ordem. Cada uma das esferas tem funções a cumprir, na busca de melhores resultados;
·         Apoio e participação dos pais: não adianta apenas identificar as dificuldades é necessário que se unam governo, escola e família para encontrar alternativas de solução para minimizar os fatores que estão dificultando a aprendizagem, sejam estes originados no contexto social ou na escola;
·         Tipo de acompanhamento e avaliação de aluno: a avaliação é, muitas vezes, usada como “arma” contra o aluno. Quando isso acontece, o aluno passa a ter medo da avaliação, medo de fazer perguntas e de mostrar que não sabe. A distância entre professor e aluno vai ficando cada vez maior.

3.2 – O papel do profissional da educação
            Os docentes necessitam de uma nova postura pedagógica: uma postura de busca de aperfeiçoamento e atualização dos conhecimentos sobre os conteúdos; de diversificadas metodologias e de diferentes recursos através de novas tecnologias; do aperfeiçoamento de metodologias avaliativas, com função de melhorar o processo.
            É fundamental o professor ter clareza de que a avaliação só tem eficiência social quando está vinculada a um projeto pedagógico, que, por sua vez, está vinculado a um projeto social. É necessário que cada professor em particular ou nos grupos faça uma auto-avaliação e uma avaliação coletiva sobre o que está acontecendo na escola.
            A culpa pelo fracasso escolar ainda está relacionado sobre o aluno, sua família ou sociedade, conclui-se que identificar de quem é a culpa não está auxiliando a minimizar o problema, é preciso um “dar as mãos”: escola, famílias e comunidade para encontrar alternativas que facilitem a aquisição do conhecimento por todos os alunos que estão na escola.
            Nas últimas décadas, esforços vêm sendo feitos no sentido de diminuir os índices de aprovação e evasão escolar. A forma como isso vai ser feito depende de cada professor. Espera-se que ele esteja bem consciente da importância que lhe é atribuída no momento em que grandes mudanças devem acontecer, quando mais importante do que a informação passa a ser o desenvolvimento da capacidade de pensar, de aprender a aprender e resolver problemas.

4 – A solução globalizada
            Nos últimos tempos, surgem movimentos globalizados para a discursão dos problemas relacionados ao fracasso escolar, onde é uma questão universal. A educação passou a ser discutida com prioridade e valorizada, no mundo inteiro, como fator de desenvolvimento social e econômico do país, após a “Conferência Mundial sobre Educação para Todos” realizada em março de 1990, em Jomtien, Tailândia.
            O resultado dessa conferência foi o compromisso assumido pelos 155 países presentes, inclusive o Brasil, de promover a educação básica para todos e garantir o ensino fundamental para as crianças. E os produtos foram a “Declaração Mundial sobre Educação para Todos” e o “Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem”. Para a implantação do Plano foram priorizados os nove maiores e mais populosos países do mundo, entre eles o Brasil.
            Em julho de 1990, foi promulgada a Lei 8069, ou o Estatuto da Criança e do Adolescente que estabelece, no Capítulo IV, Artigo 53, que “a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”. A responsabilidade para garantir esse direito deve ser um compromisso de toda a sociedade. Desde 1990, vem sendo desenvolvido o projeto Sistema Nacional de Avaliação Básica –SAEB, onde surgiu como um projeto integrador e cooperativo entre a União da Federação, visando a realização de um diagnóstico nacional capaz de orientar as políticas educacionais.
            A aprovação da Lei de diretrizes e Bases (Lei nº 9394/96), também foi uma ação muito significativa,  que prevê mudanças radicais em todos os sistemas de Ensino, desde sua organização, nos diferentes níveis, formação e obtenção de recursos financeiros.
            Assim, a autora Melchior deixa claro que para o sucesso escolar não está relacionado em um eixo unitário. Não podemos atribuir a culpa para à apenas “um” responsável. E ao invés de averiguarmos os culpados pelo fracasso, “demos as mãos”: escola, pais, sociedade, para proporcionar ao aluno aprendizagem e sucesso.


REFERÊNCIA
MELCHIOR, Maria Celina. Fracasso escolar. In: MELCHIOR, Maria Celina. O Sucesso escolar através da avaliação e da recuperação. 2. Ed. Porto Alegre: Premier, 2004, p. 17-38.


Um comentário:

  1. Essa foi uma síntese feita do texto já mencionado acima para discussão sobre o mesmo. O professor nos reuniu em duplas para que cada dupla pudesse explorar determinado texto, e o nosso estudo foi feito desse texto, e em sala todos discutimos juntos sobre todos os textos propostos para as duplas.

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