Bem vindos(as) ao Avaliação por toda parte! Este Webfólio tem como principal objetivo compartilhar alguns materiais estudados na disciplina Avaliação da Aprendizagem, ministrada pelo Professor Joseval. Conto com sua colaboração deixando seus comentários em relação aos materiais que estarão disponíveis nesta página. O tema foi escolhido pelo fato da avaliação fazer parte do nosso dia a dia, pois ela está presente por toda parte seja na escola ou em qualquer outra repartição da nossa vida
sábado, 30 de agosto de 2014
O Único Animal
É o único animal que fala mais que o papagaio.
É o único animal que gosta de scargots (fora, claro, o scargot).
É o único animal que acha que Deus é parecido com ele.
É o único...
...que se veste
...que veste os outros
...que faz o que gosta escondido
...que muda de cor quando se envergonha
...que se senta e cruza as pernas
...que sabe que vai morrer
...que pensa que é eterno
...que não tem uma linguagem comum a toda espécie
...que se tosa voluntariamente
...que lucra com os ovos dos outros
...que pensa que é anfíbio e morre afogado
...que tem bichos
...que joga no bicho
...que aposta nos outros
...que compra antenas
...que se compara com os outros.
O homem não é o único animal que alimenta e cuida das suas crias, mas é o único que depois usa isso para fazer chantagem emocional.
Não é o único que mata, mas é o único que vende a pele.
Não é o único que mata, ma é o único que manda matar.
E não é o único...
...que voa, mas é o único que paga para isso
...que constrói casa, mas é o único que precisa de fechadura
...que constrói casa, mas é o único que passa quinze anos pagando
...que foge dos outros, mas é o único que chama isso de retirada estratégica
...que trai, polui e aterroriza, mas é o único que se justifica
...que engole sapo, mas é o único que não faz isso pelo valor nutritivo
...que faz sexo, mas é o único que faz um boneco inflável da fêmea
...que faz sexo, mas é o único que precisa de manual de instrução.
Luís Fernando Veríssimo
A VOLTA DO VELHO PROFESSOR
Em
pleno século XX, um grande professor do século passado voltou à Terra
e, chegando à sua cidade, ficou abismado com o que viu: as casas
altíssimas, as ruas pretas, passando umas sobre as outras, com uma
infinidade de máquinas andando em alta velocidade; o povo falava muitas
palavras que o professor não conhecia (poluição, avião, metrô,
televisão...); os cabelos de umas pessoas pareciam com os do tempo das
cavernas e as roupas deixavam o professor ruborizado.
Muito surpreso e preocupado com a mudança, o professor visitou a cidade inteira e cada vez compreendia menos o que estava acontecendo. Na igreja, levou susto com o padre que não mais rezava em latim, com o órgão mudo e um grupo de cabeludos tocando uma música estranha. Visitando algumas famílias, espantou-se com o ritual depois do jantar: todos se reuniam durante horas para adorar um aparelho que mostrava imagens e emitia sons. O professor ficou impressionado com a capacidade de concentração de todos: ninguém falava uma palavra diante do aparelho.
Cada vez mais desanimado, foi visitar a escola – e, finalmente, sentiu um grande alívio, reencontrando a paz. Ali, tudo continuava da mesma forma como ele havia deixado: as carteiras uma atrás da outra, o professor falando, falando... e os alunos escutando, escutando, escutando...
Muito surpreso e preocupado com a mudança, o professor visitou a cidade inteira e cada vez compreendia menos o que estava acontecendo. Na igreja, levou susto com o padre que não mais rezava em latim, com o órgão mudo e um grupo de cabeludos tocando uma música estranha. Visitando algumas famílias, espantou-se com o ritual depois do jantar: todos se reuniam durante horas para adorar um aparelho que mostrava imagens e emitia sons. O professor ficou impressionado com a capacidade de concentração de todos: ninguém falava uma palavra diante do aparelho.
Cada vez mais desanimado, foi visitar a escola – e, finalmente, sentiu um grande alívio, reencontrando a paz. Ali, tudo continuava da mesma forma como ele havia deixado: as carteiras uma atrás da outra, o professor falando, falando... e os alunos escutando, escutando, escutando...
Autor desconhecido
terça-feira, 26 de agosto de 2014
SÍNTESE DO TEXTO “FRACASSO ESCOLAR”
Maria
Celina Melchior
A
autora traz a abordagem de um dos maiores problemas enfrentada pelas escolas de
1º grau, o fracasso escolar. Este problema é representado pela reprovação e
evasão escolar. E ainda é considerado um problema social grave e desafiador em
amplitude internacional.
Dados
alarmantes são apresentados pelo PNAD-IBGE (In: Educação para todos: o desafio
brasileiro, 1994) referentes à escolarização da população de 7 a 14 anos, onde
apontam que em 1988, cerca de 81,2% das crianças nesta faixa etária estão na
escola. Aproximadamente 7,5% encontram- se fora da escola depois de terem
passado por ela. Cerca de 5,3% não têm acesso à escola. Apenas 24% dos alunos
que entram na escola concluem a 8º série. Estes levam em média 11,4 anos para
concluir as oito séries. Os alunos que evadem, ficam, em média, 6,4 anos na
escola.
Assim,
a autora conclui que o grande problema está ligado à repetência e não à evasão.
O tempo que as crianças permanecem na escola, seria suficiente para a
conclusão.
1
– Evasão escolar
A
autora define que o aluno evadido é aquele que abandona a escola durante o ano
letivo. E alguns professores encontram vantagens nisso, visto que, o índice de
aprovação de seus alunos subirá. Pois segundo eles, o aluno que se evadiu “não
tem condições de ser aprovado”. Já Arroyo (1986) diz que evasão sugere que o
aluno se evade, ele deixa um espaço e uma oportunidade que lhe foi oferecida
por motivos pessoais ou familiares. Portanto, ele é responsável por sua evasão.
Entre
os fatores que levam os alunos a se evadirem, destacam-se:
·
Falta
de pré-requisito: muitos saem da escola porque
não conseguem acompanhar os demais colegas;
·
O
“rótulo” que já “receberam” em anos anteriores:
são tratados, às vezes, de forma muito sutil, como “fracassos” e ficam
marginalizados não conseguindo se integrar no grupo;
·
A
distância entre o que enfrentam na sociedade e que a escola propõe:
a falta de significado ou importância, para eles, naquilo que está sendo
proposto ou da própria escola como um todo, gera abandono dos estudos. Muitos
preferem optar por abandonar a escola por completo, ou tornar-se rebeldes;
·
Problema
sociais: o aluno tem que trabalhar para ajudar
no sustento familiar, ou a família muda, constantemente, de bairro ou de cidade
em busca de novas oportunidade de trabalho;
2
– Reprovação escolar
Após
vários estudos realizados para a detecção das causas da reprovação escolar,
constatou-se, até a década de 60, que a responsabilidade cai sobre o próprio
aluno, ou sua situação familiar, social ou econômica. Alguns anos depois
notaram, além dos fatores individuais, fatores externos ao aprendiz. O
professor, através de seu desempenho, pode facilitar a aprendizagem e contribuir
para o fracasso do aluno; as influências da escola e organização e também a
influência exercida pelo nível sócio econômico das famílias às quais pertencem
as crianças.
Holt
considera a atuação do professor como sendo a maior causa da reprovação
escolar. O autor afirma que “o aluno fracassa porque é atemorizado, molestado e
confundido” (Holt, 1967, p. 17). Atemorizado porque não tem a liberdade de
fazer o que quer, não pode errar. Seu interessado amor por aprender é destruído
ao receber a recompensa de boas notas caso responda de acordo com a vontade do
professor.
Já
Glasser (1972, p. 55) culpa a escola pelo fracasso. É dever da sociedade
oferecer um sistema escolar que assegure o êxito de sua clientela. Infelizmente
a escola não está ensinando o aluno a conseguir e manter uma identidade de
sucesso. Além desses fatores, também incluem-se: as expectativas que os
professores e, até mesmo, seus pais têm em relação às crianças e jovens; baixa
autoestima dos mesmos; e a falta de confiança em sua capacidade.
Para
Lembo (1975, p. 7) o principal culpado do insucesso escolar é o processo
escolar. Segundo ele, “o aluno não entra na escola fracassado, quando fracassa
são os métodos empregados pelos professores e administradores, individual e
coletivamente, que estão falhando”.
Marocco
(1983) considera a relação professor-aluno o ponto vital do processo
educacional característico da escola. Segundo Melchior essa relação poderá
acontecer se houve a intenção e a ação do professor para que aconteça.
Ao
invés de procurar culpados pelo insucesso escolar é necessário encontrar
alternativas que possibilitem a todos os alunos a aquisição do conhecimento e
do desenvolvimento das habilidades e atitudes desejadas. A reprovação na escola
deve ser entendida e assumida como exceção e não como regra. A regra é
aprender, progredir. Quando
falamos em alunos evadidos, repetentes ou defasados, pensam logo em motivos
como: baixo Q.I., diferenças individuais de capacidade, desinteresse ou
desmotivação; em síntese o aluno é, ainda, o responsável pelo seu fracasso.
3
– Um novo enfoque frente ao problema
Nos
últimos anos, alguns pesquisadores mudaram o rumo das pesquisas, e começaram a
investigar não mais os problemas que geram o fracasso mas o que estava sendo
feito para produzir. Segundo Mello (1994), alguns estudos teóricos e pesquisam
foram feitos, principalmente, na Inglaterra, Estados Unidos e França, partindo
das questões: “a escola faz diferença”; “que escola está fazendo diferença, ou
que escola está conseguindo ensinar os seus alunos de nível socioeconômico
desfavorecido”, levantadas na década de 70.
Em
relação à questão “a escola faz diferença” os dados confirmaram que, em geral,
a culpa recai nas variáveis referentes ao aluno. Mas em relação ao segundo
questionamento “que escola está fazendo diferença”, que não refutava esses
resultados mas definia outras variáveis, foi possível identificar as
características ou fatores que estão contribuindo para um melhor resultado na
aprendizagem.
3.1
– Fatores que favorecem o sucesso
Segundo
os estudos com diferentes delineamentos realizados por Purkey e Smith (apud
Mello, 1994), as escolas eficazes têm as seguintes características:
·
Presença
de liderança: tanto em nível de sistema, como em
nível de sala de aula, o papel do líder é extremamente importante. Não um líder
autoritário e dominador, como no ensino tradicional, mas um líder que procure
adequar o seu estilo de liderança ao grupo, às necessidades do momento e aos
objetivos que propõe, sem deixar de ser carismático, para que a educação
aconteça num clima propício ao desenvolvimento de todos os partícipes do
processo;
·
Expectativas
positivas em relação ao rendimento do aluno: a expectativa
influi na subjetividade do professor, não só no momento em que necessita fazer
avaliações em relação aos desempenhos do aluno, mas, principalmente, no nível
dos desafios que ele faz ou deixa de fazer ao aluno porque não acredita na sua
capacidade;
·
Tipo
de organização, clima da escola: são fatores
importantes para a motivação do aluno;
·
Existência
ou natureza dos objetivos de aprendizagem: a fixação
de metas e objetivos claros e bem definidos dá perspectiva às finalidades
daquilo que está propondo;
·
Distribuição
do tempo: a distribuição do tempo é um item de
importância para o alcance eficaz das metas. Em educação, além de prever o
tempo visando o alcance das metas, é necessário considerar a idade dos alunos e
distribuí-lo considerando a capacidade de concentração e a variação das
atividades, nos diferentes níveis etários, para uma maior motivação e
consequente desenvolvimento.
·
Estratégias
de capacitação de professores: é importante a
qualificação, aperfeiçoamento e atualização dos professores, pois as mudanças
sociais e o desenvolvimento tecnológico são cada vez maiores;
·
Relacionamento
e suporte técnico de instâncias da administração do ensino:
a solução de um grande número de problemas educacionais depende, em grande
parte, de uma vontade política. Não adianta um gruo comprometido com o
desenvolvimento educacional realizar suas funções de forma adequada à
necessidades, se houver problemas que não estão ao alcance de suas
possibilidades, que não forem atendidos por instâncias de outra ordem. Cada uma
das esferas tem funções a cumprir, na busca de melhores resultados;
·
Apoio
e participação dos pais: não adianta apenas identificar
as dificuldades é necessário que se unam governo, escola e família para
encontrar alternativas de solução para minimizar os fatores que estão
dificultando a aprendizagem, sejam estes originados no contexto social ou na
escola;
·
Tipo
de acompanhamento e avaliação de aluno: a avaliação
é, muitas vezes, usada como “arma” contra o aluno. Quando isso acontece, o
aluno passa a ter medo da avaliação, medo de fazer perguntas e de mostrar que
não sabe. A distância entre professor e aluno vai ficando cada vez maior.
3.2
– O papel do profissional da educação
Os
docentes necessitam de uma nova postura pedagógica: uma postura de busca de
aperfeiçoamento e atualização dos conhecimentos sobre os conteúdos; de
diversificadas metodologias e de diferentes recursos através de novas
tecnologias; do aperfeiçoamento de metodologias avaliativas, com função de
melhorar o processo.
É
fundamental o professor ter clareza de que a avaliação só tem eficiência social
quando está vinculada a um projeto pedagógico, que, por sua vez, está vinculado
a um projeto social. É necessário que cada professor em particular ou nos
grupos faça uma auto-avaliação e uma avaliação coletiva sobre o que está
acontecendo na escola.
A
culpa pelo fracasso escolar ainda está relacionado sobre o aluno, sua família
ou sociedade, conclui-se que identificar de quem é a culpa não está auxiliando
a minimizar o problema, é preciso um “dar as mãos”: escola, famílias e
comunidade para encontrar alternativas que facilitem a aquisição do conhecimento
por todos os alunos que estão na escola.
Nas
últimas décadas, esforços vêm sendo feitos no sentido de diminuir os índices de
aprovação e evasão escolar. A forma como isso vai ser feito depende de cada
professor. Espera-se que ele esteja bem consciente da importância que lhe é
atribuída no momento em que grandes mudanças devem acontecer, quando mais
importante do que a informação passa a ser o desenvolvimento da capacidade de pensar, de aprender a aprender e resolver problemas.
4
– A solução globalizada
Nos
últimos tempos, surgem movimentos globalizados para a discursão dos problemas
relacionados ao fracasso escolar, onde é uma questão universal. A educação
passou a ser discutida com prioridade e valorizada, no mundo inteiro, como
fator de desenvolvimento social e econômico do país, após a “Conferência
Mundial sobre Educação para Todos” realizada em março de 1990, em Jomtien,
Tailândia.
O
resultado dessa conferência foi o compromisso assumido pelos 155 países
presentes, inclusive o Brasil, de promover a educação básica para todos e
garantir o ensino fundamental para as crianças. E os produtos foram a
“Declaração Mundial sobre Educação para Todos” e o “Plano de Ação para
Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem”. Para a implantação do
Plano foram priorizados os nove maiores e mais populosos países do mundo, entre
eles o Brasil.
Em
julho de 1990, foi promulgada a Lei 8069, ou o Estatuto da Criança e do
Adolescente que estabelece, no Capítulo IV, Artigo 53, que “a criança e o
adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua
pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”.
A responsabilidade para garantir esse direito deve ser um compromisso de toda a
sociedade. Desde 1990, vem sendo desenvolvido o projeto Sistema Nacional de
Avaliação Básica –SAEB, onde surgiu como um projeto integrador e cooperativo
entre a União da Federação, visando a realização de um diagnóstico nacional
capaz de orientar as políticas educacionais.
A
aprovação da Lei de diretrizes e Bases (Lei nº 9394/96), também foi uma ação
muito significativa, que prevê mudanças
radicais em todos os sistemas de Ensino, desde sua organização, nos diferentes
níveis, formação e obtenção de recursos financeiros.
Assim,
a autora Melchior deixa claro que para o sucesso escolar não está relacionado
em um eixo unitário. Não podemos atribuir a culpa para à apenas “um”
responsável. E ao invés de averiguarmos os culpados pelo fracasso, “demos as
mãos”: escola, pais, sociedade, para proporcionar ao aluno aprendizagem e
sucesso.
REFERÊNCIA
MELCHIOR, Maria Celina. Fracasso
escolar. In: MELCHIOR, Maria Celina. O
Sucesso escolar através da avaliação e da recuperação. 2. Ed. Porto Alegre:
Premier, 2004, p. 17-38.
Estudo do Texto: Situando a avaliação
Questões
- Relacione a avaliação e o nosso cotidiano.
- Relacione a avaliação na escola.
- O que é avaliação formal? Cite exemplos.
- O que é avaliação informal? Cite exemplos.
- Benefícios da avaliação informal.
- Prejuízos que a avaliação informal pode causar.
- Pra que serve à avaliação?
- Avalia-se o que?
- Características da avaliação formativa.
- Quais os dois paradigmas apresentados pela autora no texto sobre a avaliação?
- O que a autora menciona sobre a prova?
- O que é necessário para que os professores modifiquem suas práticas?
- qual a importância do feedback?
VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 2004.
SEMINÁRIO IV - "PRÁTICA ESCOLAR: DO ERRO COMO FONTE DE CASTIGO AO ERRO COMO FONTE DE VIRTUDE" e "AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR: UM ATO AMOROSO"
SÍNTESE
PRÁTICA
ESCOLAR: DO ERRO COMO FONTE DE CASTIGO AO ERRO COMO FONTE DE VIRTUDE
LUCKESI, Cipriano Carlos.
Prática escolar: do erro como fonte de castigo ao erro como fonte de virtude.
In: LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos
e proposições. 22. Ed. São Paulo: Cortez, 2011, p. 189-200.
Com o avanço do tempo, os castigos
educacionais nas escolas foram perdendo o seu caráter no aspecto físico e se
transformando em agressões mais tênues, mas nem por isso desprovidos de
violência.
Nas
práticas escolares do passado, os castigos eram na sua maioria, físicos. No
Sul, os professores usavam réguas escolares para bater em seus alunos. Já no
Nordeste brasileiro a Palmatória era instrumento de castigo com o qual os
educadores disciplinavam os seus educandos. Existia também o castigo “moral”,
onde o professor deixava o aluno de “pé” durante a aula toda ou de joelhos em
milhos ou feijões como forma de punição por respostas “incorretas”.
Raramente
hoje em dia usa-se essa forma de disciplina, porém, os castigos escolares ainda
fazem parte do meio pedagógico, só que de maneiras diferentes, mas sutis. O
castigo não atinge tanto o físico do aluno, mas sim a sua personalidade.
Um
exemplo de agressão sutil: “Uma pergunta autoritária que transmite medo e
ansiedade é passada de aluno para aluno, provocando um clima de tensão e de
culpa, pois muitas vezes não se obtêm a resposta necessária”. Essa maneira de
conduzir a aprendizagem implica na fragilidade do aluno e na gravidade da
“agressão emocional” provocada pelo educador, que intitula como “fraco” o aluno
que não consegue se sobressair e de “forte” o aluno que corresponde as suas
expectativas, ridicularizando, assim, os “fracos” perante a turma. O discurso
ou ação imposta pelo professor e pelos colegas caracteriza-se então como forma
de castigar e amedrontar o aluno tenso. Ainda existem outros castigos como: Ficar
retido na sala de aula; Ficar sem lanche; Fazer tarefas “extras”. Entre outras
inúmeras modalidades de castigos e ameaças que são emergidos como erro –
verdadeiro ou suposto – ou seja, marca o aluno tanto pelo seu conteúdo funciona
como quanto pela sua forma. Tais atitudes empregadas repetidas vezes provocam
ansiedade, medo e vergonha, a postura corporal que o aluno manifesta, como a
sua maneira de respirar com intensa dificuldade é uma representação clara de
sua tensão diante da situação. Essa ação de medo funciona como um antídoto
possível contra as catástrofes que estão para desabar. O educador adquire uma
atenção (limitada) e com preços altos a se pagar.
Esse
erro na prática escolar se desenvolve como uma compreensão culposa na vida do
aluno, pois além de ele ser castigado por outros, muitas vezes sofre pela
autopunição, exemplo, Quando um jovem não vai bem numa aprendizagem, ele diz:
“Poxa, isso só acontece comigo!”.
O
trabalho psicológico futuro para que essas crianças e jovens de hoje se
libertem de suas fobias e ansiedades será gigantesco, pois eles adquiriram
hábitos biopsicológicos inconscientes criados pelo medo, que com certeza não
serve para nada mais além do que garantir uma submissão internalizada que tolhe
a vida e a liberdade criando a dependência desses seres humanos para seguir em
frente.
A
ideia central e a prática do castigo discorrem das concepções de que as
condutas de um sujeito – aqui, no caso, do educando – que não satisfaz as
expectativas de um determinado padrão e merecem ser castigadas, a fim de que
ele “pague” por um erro e que “aprenda” a assumir condutas que seriam corretas para
o educador. Por essa razão se conduz a concepção de que o entendimento e a
prática do castigo decorrem de uma visão culposa dos atos. Em outras palavras,
a culpa está na raiz do castigo.
Nessa perspectiva, o
erro está sempre relacionado a condenação e castigo porque decorre de uma
culpa. A ideia da culpa está relacionada, entre outras coisas, com a concepção
filosófica-religiosa de que somos frutos do pecado que nos acompanha desde o
nosso nascimento até a nossa função cultural - “ocidental-cristã” – que foi
marcada pela perspectiva da queda, contida no livro da Bíblia no texto de
Gênesis. Daí então, todos os seres viventes – homens e mulheres – que viessem a
nascer teriam essa marca.
Entretanto...
o viés da culpa não é gratuito, pois a própria culpa causa uma limitação de
vida e produz uma rigidez na conduta, emergindo dessa forma um controle social
internalizado e fazendo com que cada um se torne “engessado”, impossibilitado
de expandir seus sentimentos. A sociedade conservadora não suporta existir sem
suas formas de mecanismos de controle, tornando assim a culpa muito útil. Essa
trama nas relações sociais e que constitui o tecido da sociedade m si tem uma
forma determinante sobre as nossas condutas individuais, contudo, o erro
poderia ser visto também como fonte de virtude, ou seja, de crescimento
pessoal.
Isso
implica estar sempre aberto e observando o acontecimento como um acontecimento
e não como um erro; observar sem preconceito para dele retirar os benefícios.
Uma
conduta é somente uma conduta, um fato. Ela só pode ser determinada como erro a
partir de determinados padrões de julgamento, ou seja, é preciso antes de mais
nada observar para depois julgar, mas a nossa prática tem sido inversa:
primeiro colocamos a barreira do julgamento e só depois tentamos observar os
fatos que ocorreram.
Obviamente
não é nada fácil observar antes de julgar, mas precisamos adquirir e aprender
essa conduta se quisermos realmente usar o erro como fonte de virtude, pois o
erro só emerge da existência de um padrão considerado correto, ou seja, sem
padrão não há como haver erro. O que existe é uma ação insatisfatória, no
sentido de que ela não atingiu objetivo buscado.
Essa
característica de “acerto\erro” é grande e pode ser muito útil para expressar o
esforço de alguém que busca “na escuridão do conhecimento” um caminho para
compreender e para agir sobre o universo. Entretanto, se atentamos bem para o
que acontece, iremos perceber que não há nem acertos e nem erros, apenas um
processo de sucesso ou insucesso como resultado da atividade. Nesse caso não
temos nem acerto nem erro já que não existe um padrão que possa julgar tal
atitude, em suma, na aprendizagem escolar pode ocorrer manifestação da conduta
no aprendizado, uma vez que já existe o padrão do conhecimento da habilidades
ou soluções que devem ser aprendidas.
Não
há porque ser castigado pelos outros ou por si mesmo só porque uma solução se
deu de forma “mal sucedida”. O que verdadeiramente há é a possibilidade de
utilizar de maneira positiva a situação para a abordagem de certos pretendida. “Thomas
Edson fez mais de mil experiências para chegar a lâmpada e obteve muitos
experimentos mal sucedidos antes de sua descoberta. Quando questionado pelo seu
colaborador de porque não desistir, Thomas simplesmente respondeu:
Porque
desistir agora se estamos cada vez mais próximos de descobrir como fazer uma
lâmpada?”
Os
insucessos foram servindo, dessa maneira de trampolim para o sucesso de sua
busca, ou seja, neste contexto, ele não significou erro ao contrário disso,
serviu como ponto de partida para os avanços nas investigações por uma busca
satisfatória.
O
erro, especialmente no caso da aprendizagem não deve ser fonte de castigo, pois
é um suporte para a auto compreensão, seja ela pela busca individual, seja pela
busca coletiva, formando assim, um suporte para o conhecimento.
A
avaliação da aprendizagem deve servir de ajuda para a qualificação daquilo que
acontece com o aluno, diante dos objetivos alcançados, de tal modo que se possa
averiguar como agir para ajudá-lo a alcançar suas metas. A avaliação não
deveria ser fonte de decisão para o castigo, mas de decisão para os caminhos de
um crescimento sadio e feliz.
Reiteramos
também que o insucesso e o erro, em si, não são necessários para o
desenvolvimento, entretanto, uma vez que ocorram, não devemos fazer deles
fontes de culpa e de castigo, mas sim trampolins para saltos em direção a uma
vida consciente e satisfeita.
AVALIAÇÃO
DA APRENDIZAGEM ESCOLAR: UM ATO AMOROSO
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: um ato
amoroso. In:
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação
da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22. Ed. São Paulo: Cortez,
2011, p. 201-213.
Amoroso
aqui, é entendido como o cuidado do educador para com o seu educando até que
ele aprenda o que é necessário. Todo educando aprende, se efetiva e
afetivamente ensinado. Atuar dessa maneira significa amorosidade, e pois,
inclusão. A partir daí ele cumpre o papel de sinalizar para o professor de que
o sucesso positivo do ensino-aprendizagem depende também de cuidado permanente,
incansável e amoroso. Quero sintetizar que o ato de avaliar a aprendizagem, por
si, é um ato amoroso.
Provas/Exames
tem por finalidade, com relação a aprendizagem escolar, verificar o nível de
desempenho do educando em determinado conteúdo e classifica-lo em termos de
aprovação/reprovação, separando assim, os “eleitos” dos “não eleitos”.
Essa
característica das provas/exames, porém, não é graciosa. Ela está comprometida,
como os enunciados dos textos e falas, com o modelo de prática educativa e de
sociedade a que serve. No caso das Provas/Exames, temos o seu conhecimento na
origem moderna que se sistematizou a partir do século XVI e XVII, com a
aparição da sociedade burguesa. A prática que conhecemos é herdeira dessa
época, pois a sociedade burguesa é marcada pela exclusão e marginalização de
grande parte dos seus membros. Basta
notar que os slogans da Revolução Francesa, por si, eram amorosos, mas nenhum
deles é traduzido como prática histórica e concreta da sociedade. Essa
liberdade foi definida no limite da lei; evidentemente, da lei burguesa. E a
fraternidade permaneceu como palavra que o vento levou (Praticar a fraternidade
seria negar a possibilidades da sociedade burguesa, que tem por base a
exploração do outro pela apropriação do excedente do seu trabalho, ou seja,
pela apropriação da patê não paga pelo trabalho alheio e nesse contexto, o ato
pedagógico, e ainda menos, o ato das provas/exames poderiam ser um ato
amoroso).
A
denominação avaliação da aprendizagem é nova e foi atribuída a Ralph Tyler, que
a cunhou em 1930. Ele é educador norte-americano à questão de um ensino que
fosse eficiente e aqui no Brasil ele é conhecido pelo seu livro Princípios
Básicos de currículo e ensino, publicado e traduzido pela editora Globo.
Essa
denominação mudou, porém a prática continuou a mesma, as de provas e exames.
Ela é muito difícil de ser mudada por que a avaliação, por si, é um ato
amoroso, mas a sociedade em que está sendo praticada não o é, daí vence a
sociedade e não a avaliação. Enquanto as finalidades e funções das provas e exames
são as mesmas que as da sociedade burguesa, as da avaliação a questionam, por
isso é tão difícil realizar a avaliação na integralidade do seu conceito.
O
ato amoroso é o ato que acolhe ações, alegrias e dores como eles são; acolhe
para permitir que cada coisa seja o que é, neste momento. Para tanto, o ato
amoroso tem como característica não julgar. Os julgamentos até aparecerão, mas
com o objetivo de dar curso à vida e não de excluí-la. É como na passagem de
Maria Madalena, onde Cristo inclinou-se aos seios dos seres humanos,
enfrentando os fariseus com a seguinte frase: “Atire a primeira pedra quem não
tiver pecado algum”. E com essa expressão ele a acolheu, por isso ela foi
curada no corpo e na alma, pois o acolhimento integra e o julgamento afasta. Esse ato de Cristo foi um ato amoroso, que por
si só se tornou acolhedor, integrativo e inclusivo.
A
avaliação tem por base acolher uma situação, para então (e só então), ajuizar a
sua qualidade, tendo em vista estender-lhe a mão se necessário for ela tem como
base a inclusão e não a exclusão; a inclusão e não a seleção. A prática de
provas e exames exclui parte dos educandos, por basear-se no julgamento, já a
avaliação os inclui por devido ao fato de diagnosticá-los e, por isso,
oferecer-lhes condições para encontrar o caminho a seguir.
De
um lado, a avaliação da aprendizagem tem por meta ajudar o aluno em seu
crescimento, e por isso, na sua integração, ajuda-o na apropriação dos
conteúdos significativos. Aqui, ela se apresenta como meio constante de fornecer
suporte ao aluno no seu processo de descoberta e de constituição de si mesmo.
Por
outro lado, a avaliação da aprendizagem responde a uma necessidade social, pois
a escola recebe o poder social de educar as novas gerações, e por esse motivo
deve responder a esse poder. Esses dois objetivos só fazem sentido e caminham
se estiverem juntos, porque se for dada a atenção apenas ao sujeito indivíduo,
iremos cair no espontaneísmo; e se centrarmos apenas o segundo, chegaremos ao
auge do autoritarismo.
O
caminho é o meio, onde o crescimento do educando articula-se com o coletivo,
não no sentido de atrelamento, mas no sentido da responsabilidade que a escola
necessita ter com cada indivíduo.
Assim
sendo, a avaliação da aprendizagem auxilia educando e educador em sua viagem
comum de crescimento, e juntos eles constroem a aprendizagem, testemunhando-a
tanto para a escola quanto para a sociedade. A construção, para ser construção,
deve incluir, seja do ponto de vista individual, seja do ponto de vista
coletivo, integrando e educando num grupo de iguais, do todo e da sociedade
geral.
É
importante estar atentos à função constitutiva de diagnóstico para uma
avaliação que crie bases para a tomada de decisões, por meio de encaminhar os
atos subsequentes, na perspectiva da busca de maior desempenho nos resultados.
São elas:
Propiciar
a auto compreensão, tanto do aluno quanto do professor, por meio dos atos de
avaliação como aliados na construção dos resultados satisfatórios. É necessário
ter consciência de onde se está, para assim conseguir acolher aonde quer que
for. Como aliados, aluno e professor podem se auto compreender a partir da
avaliação da aprendizagem.
Motivar o crescimento. A avaliação motiva na
medida que diagnostica e cria assim, desejos para obter resultados satisfatórios.
Os alunos sentem-se mal com comentários desabonadores feitos pelos professores
no momento da devolução de trabalhos e dos seus resultados, sentindo-se
desmotivados pelas palavras. A avaliação pode e deve ser motivadora para o
aluno e para o seu crescimento e busca pelas possiblidades.
Aprofundar
a aprendizagem, dando ao educando a oportunidade de aprender o conteúdo obtido
nos exercícios e de forma apropriada, pois aqui o exercício é tido como para o
aluno como fonte de possibilidades e de múltiplas oportunidades de aprender. Os
exercícios podem e devem ser tomados como exercícios de aprendizagem.
Auxiliar
a aprendizagem. Se tivermos a compreensão de que a avaliação auxilia na
aprendizagem, certamente estaremos fazendo o melhor para que os nossos alunos
aprendam e se desenvolvam.
Por
fim, para cumprir essas funções, é importante que estejamos atentos a alguns
cuidados que serão usados como instrumento de operacionalização:
Ter
ciência de que, por meio desses instrumentos de avaliação estamos solicitando
ao aluno que manifeste sua intimidade. Não podemos, então, aproveitar essa
manifestação para “tomar posse” desses alunos, respeitando sua intimidade e a
cuidando com carinho.
Construir
instrumentos para coletas de dados e avaliação, com atenção aos pontos: Cobrir
uma amostra significativa de todos os conteúdos ensinados e aprendidos de fato,
para os planejamentos de ensino para a avaliação; Compatibilizar as atividades
motoras, trabalhadas e desenvolvidas na prática do ensino aprendizagem; Compatibilizar
os níveis de dificuldade, pois um instrumento de avaliação não pode ser fácil
ou difícil demais. Ele deve ser compatível, em termos de aprendizagem; Usar uma
língua clara e compreensível, para salientar o que se deseja pedir, porque
ninguém pode responder uma pergunta sem compreendê-la; Construir instrumentos
que auxiliem a aprendizagem dos alunos, seja por métodos de demonstração, seja
por essencialidade ou pelos exercícios inteligentes cognitivos propostos.
Por
último, é preciso estarmos atentos também ao processo de correção e devolução
dos instrumentos de avaliação escolar dos estudantes:
Quanto
a correção, é importante não usar somente o vermelho como cor predominante dos
exercícios mal sucedidos. Pode-se usar outra cor, e não é necessário borrar os
trabalhos, tendo um afeto positivo na hora da correção.
Quanto
a devolução, é importante que o professor, pessoalmente entregue a avaliação ao
educando, pois foi dele que o professor a recebeu. Isso implica respeita pelo
aluno e a oportunidade de um processo de diálogo construtivo entre educador e
aluno.
Assim
a avaliação se destina ao diagnóstico, por isso ela é inclusão, por que
destina-se a melhoria no ciclo de vida. É visível a nossa dificuldade em
compreendê-la e praticá-la... Mas, o convite deve ser feito. É uma meta a ser
traçada e trabalhada, para que com o tempo, se transforme em realidade, por
meio de nossas atitudes e ações, pois somos nós os responsáveis diretos por
esse processo.
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