sábado, 30 de agosto de 2014

Olha o constrangimento desse aluno


Momento de Reflexão


O Único Animal

O Homem é o único animal que ri dos outros. O homem é o único animal que passa por outro e finge que não vê.
É o único animal que fala mais que o papagaio.
É o único animal que gosta de scargots (fora, claro, o scargot).
É o único animal que acha que Deus é parecido com ele.
É o único...

...que se veste

...que veste os outros

...que faz o que gosta escondido
...que muda de cor quando se envergonha

...que se senta e cruza as pernas

...que sabe que vai morrer

...que pensa que é et
erno
...que não tem uma linguagem comum a toda espécie

...que se tosa voluntariamente

...que lucra com os ovos dos outros
...que pensa que é anfíbio e morre afogado

...que tem bichos
...que joga no bicho

...que aposta nos outros

...que compra antenas
...que se compara com os outros.

O homem não é o único animal que alimenta e cuida das suas crias, mas é o único que depois usa isso para fazer chantagem emocional.

Não é o único que mata, mas é o único que vende a pele.

Não é o único que mata, ma é o único que manda matar.

E não é o único...

...que voa, mas é o único que paga para isso
...que constrói casa, mas é o único que precisa de fechadura

...que constrói casa, mas é o único que passa quinze anos pagando
...que foge dos outros, mas é o único que chama isso de retirada estratégica

...que trai, polui e aterroriza, mas é o único que se justifica

...que engole sapo, mas é o único que não faz isso pelo valor nutritivo

...que faz sexo, mas é o único que faz um boneco inflável da fêmea
...que faz sexo, mas é o único que precisa de manual de instrução.

Luís Fernando Veríssimo

A VOLTA DO VELHO PROFESSOR

Em pleno século XX, um grande professor do século passado voltou à Terra e, chegando à sua cidade, ficou abismado com o que viu: as casas altíssimas, as ruas pretas, passando umas sobre as outras, com uma infinidade de máquinas andando em alta velocidade; o povo falava muitas palavras que o professor não conhecia (poluição, avião, metrô, televisão...); os cabelos de umas pessoas pareciam com os do tempo das cavernas e as roupas deixavam o professor ruborizado.

Muito surpreso e preocupado com a mudança, o professor visitou a cidade inteira e cada vez compreendia menos o que estava acontecendo. Na igreja, levou susto com o padre que não mais rezava em latim, com o órgão mudo e um grupo de cabeludos tocando uma música estranha. Visitando algumas famílias, espantou-se com o ritual depois do jantar: todos se reuniam durante horas para adorar um aparelho que mostrava imagens e emitia sons. O professor ficou impressionado com a capacidade de concentração de todos: ninguém falava uma palavra diante do aparelho.

Cada vez mais desanimado, foi visitar a escola – e, finalmente, sentiu um grande alívio, reencontrando a paz. Ali, tudo continuava da mesma forma como ele havia deixado: as carteiras uma atrás da outra, o professor falando, falando... e os alunos escutando, escutando, escutando...
 
Autor desconhecido

O Sistema Educacional


terça-feira, 26 de agosto de 2014

SÍNTESE DO TEXTO “FRACASSO ESCOLAR”



 
Maria Celina Melchior

            A autora traz a abordagem de um dos maiores problemas enfrentada pelas escolas de 1º grau, o fracasso escolar. Este problema é representado pela reprovação e evasão escolar. E ainda é considerado um problema social grave e desafiador em amplitude internacional.
            Dados alarmantes são apresentados pelo PNAD-IBGE (In: Educação para todos: o desafio brasileiro, 1994) referentes à escolarização da população de 7 a 14 anos, onde apontam que em 1988, cerca de 81,2% das crianças nesta faixa etária estão na escola. Aproximadamente 7,5% encontram- se fora da escola depois de terem passado por ela. Cerca de 5,3% não têm acesso à escola. Apenas 24% dos alunos que entram na escola concluem a 8º série. Estes levam em média 11,4 anos para concluir as oito séries. Os alunos que evadem, ficam, em média, 6,4 anos na escola.
            Assim, a autora conclui que o grande problema está ligado à repetência e não à evasão. O tempo que as crianças permanecem na escola, seria suficiente para a conclusão.

1 – Evasão escolar
            A autora define que o aluno evadido é aquele que abandona a escola durante o ano letivo. E alguns professores encontram vantagens nisso, visto que, o índice de aprovação de seus alunos subirá. Pois segundo eles, o aluno que se evadiu “não tem condições de ser aprovado”. Já Arroyo (1986) diz que evasão sugere que o aluno se evade, ele deixa um espaço e uma oportunidade que lhe foi oferecida por motivos pessoais ou familiares. Portanto, ele é responsável por sua evasão.
            Entre os fatores que levam os alunos a se evadirem, destacam-se:
·         Falta de pré-requisito: muitos saem da escola porque não conseguem acompanhar os demais colegas;
·         O “rótulo” que já “receberam” em anos anteriores: são tratados, às vezes, de forma muito sutil, como “fracassos” e ficam marginalizados não conseguindo se integrar no grupo;
·         A distância entre o que enfrentam na sociedade e que a escola propõe: a falta de significado ou importância, para eles, naquilo que está sendo proposto ou da própria escola como um todo, gera abandono dos estudos. Muitos preferem optar por abandonar a escola por completo, ou tornar-se rebeldes;
·         Problema sociais: o aluno tem que trabalhar para ajudar no sustento familiar, ou a família muda, constantemente, de bairro ou de cidade em busca de novas oportunidade de trabalho;

2 – Reprovação escolar
            Após vários estudos realizados para a detecção das causas da reprovação escolar, constatou-se, até a década de 60, que a responsabilidade cai sobre o próprio aluno, ou sua situação familiar, social ou econômica. Alguns anos depois notaram, além dos fatores individuais, fatores externos ao aprendiz. O professor, através de seu desempenho, pode facilitar a aprendizagem e contribuir para o fracasso do aluno; as influências da escola e organização e também a influência exercida pelo nível sócio econômico das famílias às quais pertencem as crianças.
            Holt considera a atuação do professor como sendo a maior causa da reprovação escolar. O autor afirma que “o aluno fracassa porque é atemorizado, molestado e confundido” (Holt, 1967, p. 17). Atemorizado porque não tem a liberdade de fazer o que quer, não pode errar. Seu interessado amor por aprender é destruído ao receber a recompensa de boas notas caso responda de acordo com a vontade do professor.
            Já Glasser (1972, p. 55) culpa a escola pelo fracasso. É dever da sociedade oferecer um sistema escolar que assegure o êxito de sua clientela. Infelizmente a escola não está ensinando o aluno a conseguir e manter uma identidade de sucesso. Além desses fatores, também incluem-se: as expectativas que os professores e, até mesmo, seus pais têm em relação às crianças e jovens; baixa autoestima dos mesmos; e a falta de confiança em sua capacidade.
            Para Lembo (1975, p. 7) o principal culpado do insucesso escolar é o processo escolar. Segundo ele, “o aluno não entra na escola fracassado, quando fracassa são os métodos empregados pelos professores e administradores, individual e coletivamente, que estão falhando”.
            Marocco (1983) considera a relação professor-aluno o ponto vital do processo educacional característico da escola. Segundo Melchior essa relação poderá acontecer se houve a intenção e a ação do professor para que aconteça.
            Ao invés de procurar culpados pelo insucesso escolar é necessário encontrar alternativas que possibilitem a todos os alunos a aquisição do conhecimento e do desenvolvimento das habilidades e atitudes desejadas. A reprovação na escola deve ser entendida e assumida como exceção e não como regra. A regra é aprender, progredir.             Quando falamos em alunos evadidos, repetentes ou defasados, pensam logo em motivos como: baixo Q.I., diferenças individuais de capacidade, desinteresse ou desmotivação; em síntese o aluno é, ainda, o responsável pelo seu fracasso.

3 – Um novo enfoque frente ao problema
            Nos últimos anos, alguns pesquisadores mudaram o rumo das pesquisas, e começaram a investigar não mais os problemas que geram o fracasso mas o que estava sendo feito para produzir. Segundo Mello (1994), alguns estudos teóricos e pesquisam foram feitos, principalmente, na Inglaterra, Estados Unidos e França, partindo das questões: “a escola faz diferença”; “que escola está fazendo diferença, ou que escola está conseguindo ensinar os seus alunos de nível socioeconômico desfavorecido”, levantadas na década de 70.
            Em relação à questão “a escola faz diferença” os dados confirmaram que, em geral, a culpa recai nas variáveis referentes ao aluno. Mas em relação ao segundo questionamento “que escola está fazendo diferença”, que não refutava esses resultados mas definia outras variáveis, foi possível identificar as características ou fatores que estão contribuindo para um melhor resultado na aprendizagem.

3.1 – Fatores que favorecem o sucesso
            Segundo os estudos com diferentes delineamentos realizados por Purkey e Smith (apud Mello, 1994), as escolas eficazes têm as seguintes características:
·         Presença de liderança: tanto em nível de sistema, como em nível de sala de aula, o papel do líder é extremamente importante. Não um líder autoritário e dominador, como no ensino tradicional, mas um líder que procure adequar o seu estilo de liderança ao grupo, às necessidades do momento e aos objetivos que propõe, sem deixar de ser carismático, para que a educação aconteça num clima propício ao desenvolvimento de todos os partícipes do processo;
·         Expectativas positivas em relação ao rendimento do aluno: a expectativa influi na subjetividade do professor, não só no momento em que necessita fazer avaliações em relação aos desempenhos do aluno, mas, principalmente, no nível dos desafios que ele faz ou deixa de fazer ao aluno porque não acredita na sua capacidade;
·         Tipo de organização, clima da escola: são fatores importantes para a motivação do aluno;
·         Existência ou natureza dos objetivos de aprendizagem: a fixação de metas e objetivos claros e bem definidos dá perspectiva às finalidades daquilo que está propondo;
·         Distribuição do tempo: a distribuição do tempo é um item de importância para o alcance eficaz das metas. Em educação, além de prever o tempo visando o alcance das metas, é necessário considerar a idade dos alunos e distribuí-lo considerando a capacidade de concentração e a variação das atividades, nos diferentes níveis etários, para uma maior motivação e consequente desenvolvimento.
·         Estratégias de capacitação de professores: é importante a qualificação, aperfeiçoamento e atualização dos professores, pois as mudanças sociais e o desenvolvimento tecnológico são cada vez maiores;
·         Relacionamento e suporte técnico de instâncias da administração do ensino: a solução de um grande número de problemas educacionais depende, em grande parte, de uma vontade política. Não adianta um gruo comprometido com o desenvolvimento educacional realizar suas funções de forma adequada à necessidades, se houver problemas que não estão ao alcance de suas possibilidades, que não forem atendidos por instâncias de outra ordem. Cada uma das esferas tem funções a cumprir, na busca de melhores resultados;
·         Apoio e participação dos pais: não adianta apenas identificar as dificuldades é necessário que se unam governo, escola e família para encontrar alternativas de solução para minimizar os fatores que estão dificultando a aprendizagem, sejam estes originados no contexto social ou na escola;
·         Tipo de acompanhamento e avaliação de aluno: a avaliação é, muitas vezes, usada como “arma” contra o aluno. Quando isso acontece, o aluno passa a ter medo da avaliação, medo de fazer perguntas e de mostrar que não sabe. A distância entre professor e aluno vai ficando cada vez maior.

3.2 – O papel do profissional da educação
            Os docentes necessitam de uma nova postura pedagógica: uma postura de busca de aperfeiçoamento e atualização dos conhecimentos sobre os conteúdos; de diversificadas metodologias e de diferentes recursos através de novas tecnologias; do aperfeiçoamento de metodologias avaliativas, com função de melhorar o processo.
            É fundamental o professor ter clareza de que a avaliação só tem eficiência social quando está vinculada a um projeto pedagógico, que, por sua vez, está vinculado a um projeto social. É necessário que cada professor em particular ou nos grupos faça uma auto-avaliação e uma avaliação coletiva sobre o que está acontecendo na escola.
            A culpa pelo fracasso escolar ainda está relacionado sobre o aluno, sua família ou sociedade, conclui-se que identificar de quem é a culpa não está auxiliando a minimizar o problema, é preciso um “dar as mãos”: escola, famílias e comunidade para encontrar alternativas que facilitem a aquisição do conhecimento por todos os alunos que estão na escola.
            Nas últimas décadas, esforços vêm sendo feitos no sentido de diminuir os índices de aprovação e evasão escolar. A forma como isso vai ser feito depende de cada professor. Espera-se que ele esteja bem consciente da importância que lhe é atribuída no momento em que grandes mudanças devem acontecer, quando mais importante do que a informação passa a ser o desenvolvimento da capacidade de pensar, de aprender a aprender e resolver problemas.

4 – A solução globalizada
            Nos últimos tempos, surgem movimentos globalizados para a discursão dos problemas relacionados ao fracasso escolar, onde é uma questão universal. A educação passou a ser discutida com prioridade e valorizada, no mundo inteiro, como fator de desenvolvimento social e econômico do país, após a “Conferência Mundial sobre Educação para Todos” realizada em março de 1990, em Jomtien, Tailândia.
            O resultado dessa conferência foi o compromisso assumido pelos 155 países presentes, inclusive o Brasil, de promover a educação básica para todos e garantir o ensino fundamental para as crianças. E os produtos foram a “Declaração Mundial sobre Educação para Todos” e o “Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem”. Para a implantação do Plano foram priorizados os nove maiores e mais populosos países do mundo, entre eles o Brasil.
            Em julho de 1990, foi promulgada a Lei 8069, ou o Estatuto da Criança e do Adolescente que estabelece, no Capítulo IV, Artigo 53, que “a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”. A responsabilidade para garantir esse direito deve ser um compromisso de toda a sociedade. Desde 1990, vem sendo desenvolvido o projeto Sistema Nacional de Avaliação Básica –SAEB, onde surgiu como um projeto integrador e cooperativo entre a União da Federação, visando a realização de um diagnóstico nacional capaz de orientar as políticas educacionais.
            A aprovação da Lei de diretrizes e Bases (Lei nº 9394/96), também foi uma ação muito significativa,  que prevê mudanças radicais em todos os sistemas de Ensino, desde sua organização, nos diferentes níveis, formação e obtenção de recursos financeiros.
            Assim, a autora Melchior deixa claro que para o sucesso escolar não está relacionado em um eixo unitário. Não podemos atribuir a culpa para à apenas “um” responsável. E ao invés de averiguarmos os culpados pelo fracasso, “demos as mãos”: escola, pais, sociedade, para proporcionar ao aluno aprendizagem e sucesso.


REFERÊNCIA
MELCHIOR, Maria Celina. Fracasso escolar. In: MELCHIOR, Maria Celina. O Sucesso escolar através da avaliação e da recuperação. 2. Ed. Porto Alegre: Premier, 2004, p. 17-38.


Estudo do Texto: Situando a avaliação

Questões

  1. Relacione a avaliação e o nosso cotidiano.
  2. Relacione a avaliação na escola.
  3. O que é avaliação formal? Cite exemplos.
  4. O que é avaliação informal? Cite exemplos.
  5. Benefícios da avaliação informal.
  6. Prejuízos que a avaliação informal pode causar.
  7. Pra que serve à avaliação?
  8. Avalia-se o que?
  9. Características da avaliação formativa.
  10. Quais os dois paradigmas apresentados pela autora no texto sobre a avaliação?
  11. O que a autora menciona sobre a prova?
  12. O que é necessário para que os professores modifiquem suas práticas?
  13. qual a importância do feedback

VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 2004. 

SEMINÁRIO IV - "PRÁTICA ESCOLAR: DO ERRO COMO FONTE DE CASTIGO AO ERRO COMO FONTE DE VIRTUDE" e "AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR: UM ATO AMOROSO"




SÍNTESE
PRÁTICA ESCOLAR: DO ERRO COMO FONTE DE CASTIGO AO ERRO COMO FONTE DE VIRTUDE

LUCKESI, Cipriano Carlos. Prática escolar: do erro como fonte de castigo ao erro como fonte de virtude. In: LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22. Ed. São Paulo: Cortez, 2011, p. 189-200.

Com o avanço do tempo, os castigos educacionais nas escolas foram perdendo o seu caráter no aspecto físico e se transformando em agressões mais tênues, mas nem por isso desprovidos de violência.
Nas práticas escolares do passado, os castigos eram na sua maioria, físicos. No Sul, os professores usavam réguas escolares para bater em seus alunos. Já no Nordeste brasileiro a Palmatória era instrumento de castigo com o qual os educadores disciplinavam os seus educandos. Existia também o castigo “moral”, onde o professor deixava o aluno de “pé” durante a aula toda ou de joelhos em milhos ou feijões como forma de punição por respostas “incorretas”.
Raramente hoje em dia usa-se essa forma de disciplina, porém, os castigos escolares ainda fazem parte do meio pedagógico, só que de maneiras diferentes, mas sutis. O castigo não atinge tanto o físico do aluno, mas sim a sua personalidade.
Um exemplo de agressão sutil: “Uma pergunta autoritária que transmite medo e ansiedade é passada de aluno para aluno, provocando um clima de tensão e de culpa, pois muitas vezes não se obtêm a resposta necessária”. Essa maneira de conduzir a aprendizagem implica na fragilidade do aluno e na gravidade da “agressão emocional” provocada pelo educador, que intitula como “fraco” o aluno que não consegue se sobressair e de “forte” o aluno que corresponde as suas expectativas, ridicularizando, assim, os “fracos” perante a turma. O discurso ou ação imposta pelo professor e pelos colegas caracteriza-se então como forma de castigar e amedrontar o aluno tenso.  Ainda existem outros castigos como: Ficar retido na sala de aula; Ficar sem lanche; Fazer tarefas “extras”. Entre outras inúmeras modalidades de castigos e ameaças que são emergidos como erro – verdadeiro ou suposto – ou seja, marca o aluno tanto pelo seu conteúdo funciona como quanto pela sua forma. Tais atitudes empregadas repetidas vezes provocam ansiedade, medo e vergonha, a postura corporal que o aluno manifesta, como a sua maneira de respirar com intensa dificuldade é uma representação clara de sua tensão diante da situação. Essa ação de medo funciona como um antídoto possível contra as catástrofes que estão para desabar. O educador adquire uma atenção (limitada) e com preços altos a se pagar.
Esse erro na prática escolar se desenvolve como uma compreensão culposa na vida do aluno, pois além de ele ser castigado por outros, muitas vezes sofre pela autopunição, exemplo, Quando um jovem não vai bem numa aprendizagem, ele diz: “Poxa, isso só acontece comigo!”.
O trabalho psicológico futuro para que essas crianças e jovens de hoje se libertem de suas fobias e ansiedades será gigantesco, pois eles adquiriram hábitos biopsicológicos inconscientes criados pelo medo, que com certeza não serve para nada mais além do que garantir uma submissão internalizada que tolhe a vida e a liberdade criando a dependência desses seres humanos para seguir em frente.
A ideia central e a prática do castigo discorrem das concepções de que as condutas de um sujeito – aqui, no caso, do educando – que não satisfaz as expectativas de um determinado padrão e merecem ser castigadas, a fim de que ele “pague” por um erro e que “aprenda” a assumir condutas que seriam corretas para o educador. Por essa razão se conduz a concepção de que o entendimento e a prática do castigo decorrem de uma visão culposa dos atos. Em outras palavras, a culpa está na raiz do castigo.
Nessa perspectiva, o erro está sempre relacionado a condenação e castigo porque decorre de uma culpa. A ideia da culpa está relacionada, entre outras coisas, com a concepção filosófica-religiosa de que somos frutos do pecado que nos acompanha desde o nosso nascimento até a nossa função cultural - “ocidental-cristã” – que foi marcada pela perspectiva da queda, contida no livro da Bíblia no texto de Gênesis. Daí então, todos os seres viventes – homens e mulheres – que viessem a nascer teriam essa marca.
Entretanto... o viés da culpa não é gratuito, pois a própria culpa causa uma limitação de vida e produz uma rigidez na conduta, emergindo dessa forma um controle social internalizado e fazendo com que cada um se torne “engessado”, impossibilitado de expandir seus sentimentos. A sociedade conservadora não suporta existir sem suas formas de mecanismos de controle, tornando assim a culpa muito útil. Essa trama nas relações sociais e que constitui o tecido da sociedade m si tem uma forma determinante sobre as nossas condutas individuais, contudo, o erro poderia ser visto também como fonte de virtude, ou seja, de crescimento pessoal.
Isso implica estar sempre aberto e observando o acontecimento como um acontecimento e não como um erro; observar sem preconceito para dele retirar os benefícios.
Uma conduta é somente uma conduta, um fato. Ela só pode ser determinada como erro a partir de determinados padrões de julgamento, ou seja, é preciso antes de mais nada observar para depois julgar, mas a nossa prática tem sido inversa: primeiro colocamos a barreira do julgamento e só depois tentamos observar os fatos que ocorreram.
Obviamente não é nada fácil observar antes de julgar, mas precisamos adquirir e aprender essa conduta se quisermos realmente usar o erro como fonte de virtude, pois o erro só emerge da existência de um padrão considerado correto, ou seja, sem padrão não há como haver erro. O que existe é uma ação insatisfatória, no sentido de que ela não atingiu objetivo buscado.
Essa característica de “acerto\erro” é grande e pode ser muito útil para expressar o esforço de alguém que busca “na escuridão do conhecimento” um caminho para compreender e para agir sobre o universo. Entretanto, se atentamos bem para o que acontece, iremos perceber que não há nem acertos e nem erros, apenas um processo de sucesso ou insucesso como resultado da atividade. Nesse caso não temos nem acerto nem erro já que não existe um padrão que possa julgar tal atitude, em suma, na aprendizagem escolar pode ocorrer manifestação da conduta no aprendizado, uma vez que já existe o padrão do conhecimento da habilidades ou soluções que devem ser aprendidas.
Não há porque ser castigado pelos outros ou por si mesmo só porque uma solução se deu de forma “mal sucedida”. O que verdadeiramente há é a possibilidade de utilizar de maneira positiva a situação para a abordagem de certos pretendida. “Thomas Edson fez mais de mil experiências para chegar a lâmpada e obteve muitos experimentos mal sucedidos antes de sua descoberta. Quando questionado pelo seu colaborador de porque não desistir, Thomas simplesmente respondeu:
Porque desistir agora se estamos cada vez mais próximos de descobrir como fazer uma lâmpada?”
Os insucessos foram servindo, dessa maneira de trampolim para o sucesso de sua busca, ou seja, neste contexto, ele não significou erro ao contrário disso, serviu como ponto de partida para os avanços nas investigações por uma busca satisfatória.
O erro, especialmente no caso da aprendizagem não deve ser fonte de castigo, pois é um suporte para a auto compreensão, seja ela pela busca individual, seja pela busca coletiva, formando assim, um suporte para o conhecimento.
A avaliação da aprendizagem deve servir de ajuda para a qualificação daquilo que acontece com o aluno, diante dos objetivos alcançados, de tal modo que se possa averiguar como agir para ajudá-lo a alcançar suas metas. A avaliação não deveria ser fonte de decisão para o castigo, mas de decisão para os caminhos de um crescimento sadio e feliz.
Reiteramos também que o insucesso e o erro, em si, não são necessários para o desenvolvimento, entretanto, uma vez que ocorram, não devemos fazer deles fontes de culpa e de castigo, mas sim trampolins para saltos em direção a uma vida consciente e satisfeita.

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR: UM ATO AMOROSO

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: um ato amoroso. In:
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22. Ed. São Paulo: Cortez, 2011, p. 201-213.

Amoroso aqui, é entendido como o cuidado do educador para com o seu educando até que ele aprenda o que é necessário. Todo educando aprende, se efetiva e afetivamente ensinado. Atuar dessa maneira significa amorosidade, e pois, inclusão. A partir daí ele cumpre o papel de sinalizar para o professor de que o sucesso positivo do ensino-aprendizagem depende também de cuidado permanente, incansável e amoroso. Quero sintetizar que o ato de avaliar a aprendizagem, por si, é um ato amoroso.
Provas/Exames tem por finalidade, com relação a aprendizagem escolar, verificar o nível de desempenho do educando em determinado conteúdo e classifica-lo em termos de aprovação/reprovação, separando assim, os “eleitos” dos “não eleitos”.
Essa característica das provas/exames, porém, não é graciosa. Ela está comprometida, como os enunciados dos textos e falas, com o modelo de prática educativa e de sociedade a que serve. No caso das Provas/Exames, temos o seu conhecimento na origem moderna que se sistematizou a partir do século XVI e XVII, com a aparição da sociedade burguesa. A prática que conhecemos é herdeira dessa época, pois a sociedade burguesa é marcada pela exclusão e marginalização de grande parte dos seus membros.  Basta notar que os slogans da Revolução Francesa, por si, eram amorosos, mas nenhum deles é traduzido como prática histórica e concreta da sociedade. Essa liberdade foi definida no limite da lei; evidentemente, da lei burguesa. E a fraternidade permaneceu como palavra que o vento levou (Praticar a fraternidade seria negar a possibilidades da sociedade burguesa, que tem por base a exploração do outro pela apropriação do excedente do seu trabalho, ou seja, pela apropriação da patê não paga pelo trabalho alheio e nesse contexto, o ato pedagógico, e ainda menos, o ato das provas/exames poderiam ser um ato amoroso).
A denominação avaliação da aprendizagem é nova e foi atribuída a Ralph Tyler, que a cunhou em 1930. Ele é educador norte-americano à questão de um ensino que fosse eficiente e aqui no Brasil ele é conhecido pelo seu livro Princípios Básicos de currículo e ensino, publicado e traduzido pela editora Globo.
Essa denominação mudou, porém a prática continuou a mesma, as de provas e exames. Ela é muito difícil de ser mudada por que a avaliação, por si, é um ato amoroso, mas a sociedade em que está sendo praticada não o é, daí vence a sociedade e não a avaliação. Enquanto as finalidades e funções das provas e exames são as mesmas que as da sociedade burguesa, as da avaliação a questionam, por isso é tão difícil realizar a avaliação na integralidade do seu conceito.
O ato amoroso é o ato que acolhe ações, alegrias e dores como eles são; acolhe para permitir que cada coisa seja o que é, neste momento. Para tanto, o ato amoroso tem como característica não julgar. Os julgamentos até aparecerão, mas com o objetivo de dar curso à vida e não de excluí-la. É como na passagem de Maria Madalena, onde Cristo inclinou-se aos seios dos seres humanos, enfrentando os fariseus com a seguinte frase: “Atire a primeira pedra quem não tiver pecado algum”. E com essa expressão ele a acolheu, por isso ela foi curada no corpo e na alma, pois o acolhimento integra e o julgamento afasta.  Esse ato de Cristo foi um ato amoroso, que por si só se tornou acolhedor, integrativo e inclusivo.
A avaliação tem por base acolher uma situação, para então (e só então), ajuizar a sua qualidade, tendo em vista estender-lhe a mão se necessário for ela tem como base a inclusão e não a exclusão; a inclusão e não a seleção. A prática de provas e exames exclui parte dos educandos, por basear-se no julgamento, já a avaliação os inclui por devido ao fato de diagnosticá-los e, por isso, oferecer-lhes condições para encontrar o caminho a seguir.
De um lado, a avaliação da aprendizagem tem por meta ajudar o aluno em seu crescimento, e por isso, na sua integração, ajuda-o na apropriação dos conteúdos significativos. Aqui, ela se apresenta como meio constante de fornecer suporte ao aluno no seu processo de descoberta e de constituição de si mesmo.
Por outro lado, a avaliação da aprendizagem responde a uma necessidade social, pois a escola recebe o poder social de educar as novas gerações, e por esse motivo deve responder a esse poder. Esses dois objetivos só fazem sentido e caminham se estiverem juntos, porque se for dada a atenção apenas ao sujeito indivíduo, iremos cair no espontaneísmo; e se centrarmos apenas o segundo, chegaremos ao auge do autoritarismo.
O caminho é o meio, onde o crescimento do educando articula-se com o coletivo, não no sentido de atrelamento, mas no sentido da responsabilidade que a escola necessita ter com cada indivíduo.
Assim sendo, a avaliação da aprendizagem auxilia educando e educador em sua viagem comum de crescimento, e juntos eles constroem a aprendizagem, testemunhando-a tanto para a escola quanto para a sociedade. A construção, para ser construção, deve incluir, seja do ponto de vista individual, seja do ponto de vista coletivo, integrando e educando num grupo de iguais, do todo e da sociedade geral.
É importante estar atentos à função constitutiva de diagnóstico para uma avaliação que crie bases para a tomada de decisões, por meio de encaminhar os atos subsequentes, na perspectiva da busca de maior desempenho nos resultados. São elas:
Propiciar a auto compreensão, tanto do aluno quanto do professor, por meio dos atos de avaliação como aliados na construção dos resultados satisfatórios. É necessário ter consciência de onde se está, para assim conseguir acolher aonde quer que for. Como aliados, aluno e professor podem se auto compreender a partir da avaliação da aprendizagem.
 Motivar o crescimento. A avaliação motiva na medida que diagnostica e cria assim, desejos para obter resultados satisfatórios. Os alunos sentem-se mal com comentários desabonadores feitos pelos professores no momento da devolução de trabalhos e dos seus resultados, sentindo-se desmotivados pelas palavras. A avaliação pode e deve ser motivadora para o aluno e para o seu crescimento e busca pelas possiblidades.
Aprofundar a aprendizagem, dando ao educando a oportunidade de aprender o conteúdo obtido nos exercícios e de forma apropriada, pois aqui o exercício é tido como para o aluno como fonte de possibilidades e de múltiplas oportunidades de aprender. Os exercícios podem e devem ser tomados como exercícios de aprendizagem.
Auxiliar a aprendizagem. Se tivermos a compreensão de que a avaliação auxilia na aprendizagem, certamente estaremos fazendo o melhor para que os nossos alunos aprendam e se desenvolvam.
Por fim, para cumprir essas funções, é importante que estejamos atentos a alguns cuidados que serão usados como instrumento de operacionalização:
Ter ciência de que, por meio desses instrumentos de avaliação estamos solicitando ao aluno que manifeste sua intimidade. Não podemos, então, aproveitar essa manifestação para “tomar posse” desses alunos, respeitando sua intimidade e a cuidando com carinho.
Construir instrumentos para coletas de dados e avaliação, com atenção aos pontos: Cobrir uma amostra significativa de todos os conteúdos ensinados e aprendidos de fato, para os planejamentos de ensino para a avaliação; Compatibilizar as atividades motoras, trabalhadas e desenvolvidas na prática do ensino aprendizagem; Compatibilizar os níveis de dificuldade, pois um instrumento de avaliação não pode ser fácil ou difícil demais. Ele deve ser compatível, em termos de aprendizagem; Usar uma língua clara e compreensível, para salientar o que se deseja pedir, porque ninguém pode responder uma pergunta sem compreendê-la; Construir instrumentos que auxiliem a aprendizagem dos alunos, seja por métodos de demonstração, seja por essencialidade ou pelos exercícios inteligentes cognitivos propostos.
Por último, é preciso estarmos atentos também ao processo de correção e devolução dos instrumentos de avaliação escolar dos estudantes:
Quanto a correção, é importante não usar somente o vermelho como cor predominante dos exercícios mal sucedidos. Pode-se usar outra cor, e não é necessário borrar os trabalhos, tendo um afeto positivo na hora da correção.
Quanto a devolução, é importante que o professor, pessoalmente entregue a avaliação ao educando, pois foi dele que o professor a recebeu. Isso implica respeita pelo aluno e a oportunidade de um processo de diálogo construtivo entre educador e aluno.
Assim a avaliação se destina ao diagnóstico, por isso ela é inclusão, por que destina-se a melhoria no ciclo de vida. É visível a nossa dificuldade em compreendê-la e praticá-la... Mas, o convite deve ser feito. É uma meta a ser traçada e trabalhada, para que com o tempo, se transforme em realidade, por meio de nossas atitudes e ações, pois somos nós os responsáveis diretos por esse processo.